novembro 17, 2010

silly. part V

Era domingo a tarde e Natalie tinha acabado de acordar. O quarto ainda estava escuro, não tinha nada daquela coisa poética de sol entrando pela janela e tal. Thiago ainda estava dormindo, e ao acordar ela até ouviu ele falando umas palavras daquela língua que é falada nos sonhos.

Uma semana tinha passado depois da famosa festa, que foi seguida de fugas noturnas e conversas com Thiago. Ela não tinha visto Rob desde então.

No colégio, parecia que ele fugia dela. Ela via ele de relance, virava o rosto e ele já não estava mais lá. Ele não passava mais pra buscá-la de manhã, nem ao menos esperava na hora da saída. Bom, ele tinha batido no Adam, mas ele realmente achava que ela tinha ficado brava com isso?

Na verdade, ela tinha ficado até lisonjeada. Ela achou que ele não ligava. O coração dela deu pulinhos quando viu que era ele quem estava defendendo ela. Mas é óbvio, isso era difícil demais de admitir. Ela pensava: "Como chegar e falar "cara, aconteceu um negócio estranho no meu coração quando eu te vi me defendendo"? Isso seria completamente anormal, oi.". Mas essa semana ela começou a pensar nele de um outro jeito, sem querer... Aconteceu, oras. Ela nunca tinha sentido uma falta tão grande assim dele. E não era apenas da amizade.

Ela levantou, colocou qualquer coisa, o seu grande casaco por cima, um tênis qualquer e saiu. Ela tinha ido andar, sei lá, ir pra qualquer lugar. Rob foi a primeira coisa na qual ela pensou ao acordar. Ela não conseguia admitir à si mesma que talvez tivesse algum sentimento além da amizade por Rob. Era realmente difícil.

Natalie acabou indo por um caminho que levava até o parque do bairro, à essa hora da manhã ele era bem calmo.

Na verdade, nem tão calmo quanto ela esperava. Ela tinha pensado em sentar no banco que ela gostava, um no qual sempre batia sol e dava de frente pro lago. Mas tinha uma pessoa sentada lá. Visto o seu estado, ela poderia ter expulsado a pessoa. Mas seus olhos ainda estavam inchados de sono, ela não iria afrontar alguém com aquela cara, sem contar que ela tinha esquecido os óculos em casa, tentar ver algo de longe de manhã pra ela era impossível.

Ela sentou na ponta no banco, virada pro lago, começou a detalhar o reflexo do céu e das árvores na água. Ela sem querer deixou o celular cair no chão. Abaixou-se para pegá-lo, quando ela viu. Aqueles tênis usados, ela os conhecia. Aquele jeans cigarette, ela o conhecia. Aqueles olhos - e que olhos - verdes, ela com certeza também conhecia.

Natalie não sabia o que falar. Ela tentou dizer algo normal, como "Oi", mas ao abrir a boca, nenhum som saia. Até que ela contou até 3 na cabeça - 1... 2... 3... já! - e disse:

- Você sumiu.

Um silêncio que parecia eterno seguiu essas duas palavras que mal foram pronunciadas e Natalie já se arrependia de as tê-la dito.

- Desculpa. Eu precisava entender o que estava acontecendo. - Ela sentiu um frio enorme na barriga ao ouvir a voz grave dele, meu deus, como ela tinha ficado com saudades daquela voz...
- Acontecendo?
- A coisa de ter ficado extremamente puto e partido pra cima do Adam. Eu poderia ter feito como eu sempre faço, ter chamado ele num canto e conversado. - Tentou explicar Rob. - Mas eu não sei de onde veio toda aquela raiva naquele instante.
- Eu que não deveria ter cedido, e voltado a confiar naquele estúpido.
- Não, é completamente humano isso... Mas... Enfim. Agora eu sei porque toda aquela raiva veio.
- Por que? - questionou Natalie, curiosa pra saber a resposta. Seria algo como "fui um leão na outra vida" ou "estou virando o homem-aranha, o super-homem" ou sei lá? Rob tinha uma imaginação remarcável, ele sempre falava coisas do tipo.
- É que... Olha, foda-se se isso acabe com a nossa amizade, essa semana longe de você foi a pior coisa que já me aconteceu, foi horrível. Então foda-se, eu tentei pensar em milhares de coisas pra te falar, mas eu não sei o que falar, não sei como falar. Cara, eu comecei a pensar... E a primeira coisa que eu pensei quando eu te vi, há anos atrás, foi "Cara, como ela é linda", e tudo que você faz, até essa sua cara amassada, o seu bafo fedorento de manhã, o jeito que você fala milhares de palavrões que eu não sabia nem a existência quando tá nervosa e até aquela sua espinha que você tinha no meio da testa me encantam. Seus olhos atentos ao me olhar quando eu tô contando algo, o seu sorriso, até mesmo quando tem um pedacinho de salada preso no seu aparelho. Sabe, eu acho que durante muito tempo eu tentei convencer à mim mesmo que eu não te curtia. Que você era bonita apenas com maquiagem, que você era abominável ao natural. Tentei achar milhares de defeitos, juro. Mas o problema é que eu amo cada um desses defeitos. Todos esses defeitos são as coisas que te tornam o que você é, essa garota maravilhosa pela qual eu... - Ele parou por um segundo, se perguntando se ele deveria mesmo dizer essas palavras - me apaixonei. Eu entendo se você disser que eu estou louco, que nunca vai existir nada entre a gente. Mas foda-se, sabe? Eu precisava falar isso pra você. Eu fiquei fudido vendo a única pessoa à qual você deu o seu coração inteiramente, jogando isso fora. Ele não percebia a sorte que tinha? - Ele fez uma pausa. - Foi por isso que eu sumi essa semana, eu não aguentaria te ver sem confessar tudo isso, sem colocar todas as coisas da minha cabeça em ordem.

Natalie ficou sem palavras. Será que não foi isso que aconteceu com ela? Ela tentou tanto se convencer que eles eram apenas amigos, que ela não conseguiu perceber o sentimento que estava ali? Pensar nos olhos dele daquele jeito realmente não era normal. Mas ela tentava ignorar. Meu deus, ela realmente gostava dele?

- Porra, fala alguma coisa, tô me sentindo completamente idiota agora. - disse Rob, olhando pra ela. Os olhos deles, para o desagrado de Natalie, se cruzaram, e ela se sentiu derreter como manteiga.
- Não cara... É que...
- Já entendi.
- Não! - disse Natalie se virando e fazendo face à ele. - Essa semana toda, tudo que mais me faltava era você. Eu acabei de perceber que eu não liguei pro que o Adam fez aquela noite. A semana inteira eu não pensei nele. Eu pensei em você. No que você estaria fazendo, no que diabos você estaria pensando. Por que raios você não falava mais comigo. E eu me lembrava a cada vez mais da forma que você me defendeu. E... Eu odeio admitir isso, mas quando eu abri os olhos ao beijar o Adam, eu, na minha cabeça, jurava que era você. Eu estava bêbada, ok, mas bêbados são sinceros. E me peguei pensando que eu queria que fosse você, na verdade. Mas eu tive que apagar esse pensamento rápido, eu não suportava pensar que isso poderia acabar com a nossa amizade, que eu poderia te perder estragando tudo... Rob, esse tempo todo, eu gostava de você sem saber. Eram os seus olhos que eu queria ver quando estava mal... Eu... Eu...
- Shhh.

Ele se aproximou e a beijou.

Aquele beijo sim era bom. Aqueles lábios sim era doces e combinavam com os dela. Lá, naquele instante, ela se sentiu bem e completa. Agora ela sabia o que era esse sentimento. O coraçãozinho dela, estava batendo forte, ela achou que ele ia explodir. Agora, ela sabia... Adam tinha sido apenas uma ilusão. O amor estava do lado dela, e, finalmente, ela tinha percebido.

Fim.

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