julho 20, 2011

Beco sem saída

E quantas vezes eu já te procurei em outros corpos, outras bocas, outros olhos. Quantas vezes eu já me enganei com outros sentimentos, tentava - e às vezes até conseguia - me convencer de que tinha passado, de que "esse é o certo, esse é o melhor, o outro não era bom pra mim". Quantas vezes já escrevi para outros deixando o rastro de nossa história nas entrelinhas, deixando-me levar pelas minhas mãos que escreviam por puro impulso frases evidentemente destinadas a você, mas numa declaração que, ao início, era destinada a outro. Ironia, né. Você está aqui. Ali. Lá. Pois é, meu amor, grande equivoco meu achar que conseguiria desviar de sua presença em minha mente ao encostar minha cabeça no travesseiro no fim do dia. Falta tanto pra viver e minha alma sente tanta certeza. Talvez seja ingenuidade, inocência. Mas já chegamos tão longe e você deixou tua marca em todo lugar. Surreal.

As melhores coisas da vida são as mais difíceis de se obter e é necessário paciência, disseram.

E, meu anjo, entenda que no fundo existe uma menina ansiando em ser só sua, mas, menina que é, tem medo de novas cicatrizes. Porém, arriscaria tudo para sorrir contigo.

julho 17, 2011

Martha Medeiros

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

julho 13, 2011

Memórias de uma madrugada

Vagou inquieta pelo quarto. Mas que grande bosta, suspirou.

Nessa madrugada, tão quieta, tão silenciosa, tão ensurdecedora, pairava um sentimento de... Do que mesmo ? Chega a ser incrível como quando o peito está transbordando de sentimentos, quando a cabeça está borbulhando de pensamentos, a gente não consegue pegar um só e analisar. Porque é assim : você pega um, e naquele um você acha um outro, e outro, e outro... E então uma manta, um lençol de pensamentos se forma exalando, então, diversos sentimentos. Sentia-se culpada, de certa forma. Se sentia feliz. Mas estava tão inconsolável. Sempre se contradizendo.

Sentiu uma vontade de gritar mas nenhum som - nem mesmo em forma de sussurro - saia de seus lábios. E, de qualquer forma, as palavras faltavam, estavam ausentes. A indignação e incompreensão escorriam pelo seu rosto e sua pele, impregnada de saudade, se tornava cada vez mais sensível ao toque. Sentia um frio na espinha, atrás das orelhas. Sentia pterodáctilos no estômago.

Precisava se distrair. Tentou pegar o papel e a caneta, mas ficou apenas ali, encarando o papel em branco. Onde estavam as palavras que outrora fluíam tão naturalmente ? Isso não é hora pra tomar banho, pensou. Que merda. Algumas pessoas deixavam de fazer uma coisa ou outra por falta de tempo... Ah, tempo, isso ela tinha ! Mas era incapaz de fazer o que queria. Não, talvez "incapaz" fosse uma palavra muito forte. Não tinha jeito nenhum de fazer o que queria. O que queria estava longe. Tinha que esperar. Esperar. Tempo.

Deitou no tapete. Ela queria apenas parar de pensar. E esse sono não chegava, não chegava...