outubro 30, 2009

válvula de escape


olha, eu não sei o que eu vou escrever. eu não tenho a menor idéia do que anda passando pela minha cabeça; tudo que eu sei é que tem um monte de coisas aqui dentro, que vão de um lado pro outro, batendo nos quatro cantos do meu crânio.

são sensações, emoções, pensamentos, opiniões, indecisões, vontades (ou a falta delas) e muito mais coisas indefinidas que formam uma coisa só: a minha bagunça e inferno interior.
eu não sei mais o que pensar, nada é coerente aqui dentro. eu nunca fui coerente.

é incrível como as pessoas podem ter um problema só, mas insistem em caçar milhares de outros problemas invisíveis que não existiriam se você ficasse procurando por eles. ficar sofrendo por antecedência é burrice. e eu sei de tudo isso, mas eu não consigo evitar. praticamente todos os atos à minha volta insistem a me mostrar um lado ruim sobre tudo.

vou casar achando que o amor é real e depois de um tempo não suportar mais ver a cara do meu marido, e viver com ele só por obrigação? eu não vou mais ter tempo pra nada, ou vou ter tempo demais? eu sei que é impossível prever o futuro, que querer saber o que vai acontecer e prever as coisas precocemente é pura estupidez. mas eu não consigo evitar, e isso tudo me irrita profundamente. EU me irrito profundamente. eu tenho medo de acabar sozinha.

eu não sei mais o que fazer pra fugri desses pensamentos que insistem em martelar minha mentea, esses demônios negros e assassinos que descem aqui e insistem em brincar de crucificar a minha cabeça.

eu me eprco em cada pensamento. quando eu tento me focalizar em um, ele puxa outro, que vai puxando outro e outro... e eu sei que de qualquer forma não vai adiantar em nada me focalizar em um desses pensamentos, porque eu sei que eu não tenho nem a resposta e nem a solução pra nenhum deles. a não ser aquela maldita resposta que todas as malditas pessoas têem em comum: o tempo.

olha, eu não tenho mais fé e você sabe. você sabe que eu odeio estar longe e que eu queria realmente que desse certo. mas ambos sabemos que não vai dar certo, e olha que eu sempre deixo o impossível como última opção! chegou à um ponto que eu não suporto mais pensar nisso e sentir incerteza, que eu não consigo mais pensar nos sonhos e planos que outrora me pareceram tão reais. eu estou realmente com raiva. não de você, você não tem culpa nenhuma, você tentou. mas eu tô com raiva é de mim, que sou incapaz, que sou confusa, que consigo entender todo e qualquer problema das outras pessoas mas não consigo entender uma pontinha do meu.

eu quero voltar a ser o que eu era antes, a Mariana sorridente e risonha, que conseguia enfrentar as coisas com um sorriso, que às vezes cedia para a tristreza, mas que isso nunca durava muito tempo; eu queria voltar a ser natural. não queria continuar a ser essa Mariana amarga e calculista que a mudança pra França me tornou. eu sou volto a ser eu mesma quando eu estou no Brasil, e isso foi comprovado.

não importa quantas vezes você me diga que o problema não está aí, eu vou sempre afirmar que se eu estivesse no Brasil seria melhor, que essa mudança drástica e precoce não foi exatamente no momento certo. eu vivia tão intensamente que eu nem percebi que a hora de ir embora tinha chegado. ultimamente eu anulo tudo pra poder ficar um pouco mais na minha cama - ou talvez o dia inteiro. e antes, eu dormia somente o necessário pra ter tempo de poder fazer tudo que eu quero, o que incluia sair da cama.

eu tenho um nó enorme na garganta, você sabia disso? você consegue se colocar no meu lugar durante um só instante? tá, é uma puta qualidade de vida pro futuro, e já houve tempos em que eu queria realmente acreditar que esse pró acabava com todos os contras. mas eu ando pensando no presente, no agora... como é que é, meu interior vai continuar podre, é isso? até o dia em que eu consiga me libertar?

eu não sei mais o que fazer, eu não sei nem se tudo que eu escrevi aí em cima é o que eu realmente sinto, se é o que eu realmente sinto, eu tô confusa e não sei mais de nada. eu só precisava escrever, só precisava me sentir um pouquinho mais aliviada.

não me leve a mal, apenas me leve daqui.

outubro 28, 2009

suspiros


eu te reconheci de longe. aliás, eu te reconhecia de longe já fazia tempo; mesmo se aos olhos de outras garotas você poderia parecer banal e não fazer nenhuma diferença no meio das outras pessoas.

mas há dois anos atrás eu apenas te avistei, não te conhecia. e lá estava eu, dois anos depois sentindo o mesmo frio no estômago na espectativa de te ver.

dois anos que você dia após dia conseguia cultivar esse sentimento lindo, essa paixão que eu tinha por você. às vezes você me obsecava tanto que eu chegava a acreditar que eu tinha uma paixão realmente doentia por você. mas no final eu descobri que você apenas me fascinava cada dia mais, me mostrando novos ângulos de ver o que eu já conheço, me mostrando coisas novas, me acompanhando... e que era com você que eu queria estar.

nós passamos por altos e baixos durante esses dois anos. desde os gritos durante as nossas brigas quando nossos caráteres fortes se batiam, até os "eu te amo" sussurados no ouvido depois de um dia cansativo. dos almoços em família, aos jantares íntimos; eu não acredito até hoje que você tinha reservado uma mesa naquele restaurante chic só porque tinha moules frites à la crème e você sabia que era um dos meus pratos prediletos (mas te ver vestido de terno, foi o charme da noite! me senti uma Meg Ryan da vida). aliás, não só o jantar no restaurante, mas você tentando cozinhar pra mim foi realmente... engraçado e muito bom.

eu lembro da nossa crise dos 7 meses, quando você disse aquele monte de coisas horríveis. eu sei que eu mereci, tinha sido um lixo de namorada nesses dias, achei que, como já era regra pra mim, a hora do enjôo tinha chegado e que tudo ia acabar; que o período do meu sentimento tinha chego à data de expiração. eu te deixei com raiva, e estou ciente disso.

como quem não quer nada, eu dei essas minhas (famosas) indiretas à respeito do meu enjôo: do que acontecia, de quando eu me distanciava etc. e falei bem no tempo em que minha ausência tinha sido mais presente do que eu. eu achei que ir de mansinho seria a forma menos dolorosa de colocar um ponto final. você me conhecia bem e tinha o dom de saber que atrás da minha carapaça eu escondia alguma coisa.

você sabia que ficar com a mesma pessoa durante 7 meses pra mim era um recorde. e que, como eu já tinha repetido várias vezes, eu tinha criado um carinho e uma dependência enorme de você. você tinha chegado ao mais fundo de mim. como eu sempre dizia que era um yogurte natural à temperatura ambiente com calda de morango embaixo, na minha cabeça você tinha chegado na parte do morango. a gente tinha passado tanto tempo junto, descobrindo coisas um do outro, descobrindo coisas juntos, conversando e confessando, que você sabia que distanciar alguém era uma forma de reflexo minha. você diz que é o meu medo tendo efeitos colaterais e não parecendo exatamente medo. você me disse que achava que era quando eu estava tão apaixonada que eu tinha medo que a pessoa conseguisse me machucar. e aí então eu fugia. você sabia tudo - não, quase tudo sobre mim, e na maioria das vezes tentava entender.

você no começo manteu a calma e foi no meu jogo, continuou com as indiretas. até o momento em que eu comecei a ser grosseira e desagradável, foi aí que você, como as pessoas costumam dizer, tinha realmente perdido a linha. você jogou muitas coisas na minha cara, entre elas, você disse que "CARALHO, VOCÊ NÃO PRECISA JOGAR INDIRETAS PRA FALAR QUE ENJÔOU DE MIM E QUE NÃO QUER MAIS VER A PORRA DA MINHA CARA, EH SOH FALAR!"; e eu, orgulhosa como sou, logo que vi uma lágrima cair, virei as costas e fui embora. você não veio atrás de mim - orgulhoso também.

eu cheguei em casa, mesmo sendo difícil de chegar até lá quando a minha vista - embaçada pelas lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos - não me deixava ver claramente as placas, luzes e esquinas de ruas onde virar. eu entrei em casa, e me tranquei no meu quarto, como é típico de uma adolescente. não quis falar com a minha mãe.

eu chorei, chorei e solucei. você tinha me jogado na cara tudo que eu não queria enxergar. e eu que tinha ido te ver no intuito de terminar e voltar mais leve pra casa, e volto chorando porque não quero mais te perder.

não quero mais te perder? é, percebi isso quando desabafei com a minha amiga, quando contei tudo pra ela. ela queria ir correndo te dizer poucas e boas, mas eu disse pra ela fica quieta e deixar como está. essa minha amiga me ajudou muito e eu a agradeço até hoje. mas ela não ajudou do jeito que eu estava precisando, e a culpa definitvamente não era dela. era minha. e por parte, sua também.

foi exatamente aí que eu percebi a minha dependência de você. que por mais que ela dissesse palavras reconfortantes, as únicas palavras que iriam me acalmar seriam as suas. eu odiava depender das pessoas, e ainda odeio, e naquele momento, eu vi que a coisa tinha ficado séria. eu realmente dependia de você mais do que eu pensava. eu chorei pensando que era o fim, e que eu que tinha causado tudo. pensei em como eu ia jogar fora esses 7 meses incríveis com você, que apesar das brigas extremamente bestas, tinham sido os melhores que eu já tinha passado. foi só a nossa convivência diária, ou não convivência, os telefonemas, as ligações no nosso círculo de amizade diário, as coisas em comum que nos fizeram descobrir diferenças nem tão comuns, e essas milhares de coisas, que fizeram com que a gente se entendesse, que fizeram com que você conseguisse descobrir mais de mim, que fez com que você conseguisse sarar as minhas feridas, os meus complexos. foi aí que eu percebi a sorte que eu tava jogando fora. foi aí que eu percebi que eu poderia viver sem você, mas que se eu não te tivesse mais junto comigo essa vida perderia o brilho que você colocava.

depois de uma semana, eu deixei meu orgulho de lado. eu não sabia mais o que estava acontecendo, a gente não tinha terminado, mas não sentia mais que estávamos juntos; e todo dia eu sentia falta de ouvir a sua voz rouca dizendo "alô", reclamando dos seus professores e do quando eles acham que "você não tem mais o que fazer", eu não conseguia mais ouvir uma música do Dashboard Confessional sem lembrar, a cada palavra cantada pelo Chris Carrabba, de um momento com você ou de um sorriso seu. ent~~ao, eu te liguei e marcamos um encontro no parque.

no começo foi estranho, a gente tentava agir normalmente, mas ambos sabiam que de normal nem as aparências eram mais. eu te pedi desculpas, e te contei tudo que eu sentia, tudo que eu percebi, tudo que eu pensei, até porque você sempre preferiu que eu te dissesse a verdade nua e crua ao invés de escondê-la com mentiras maquiadas; e eu sempre me senti segura te contando até as coisas mais patéticas sobre mim, o melhor era saber que era recíproco.

foi aí que você me contou que aquilo te machucou, que você não suportou ver que a enjoação tinha acontecido com você. você me disse que achava que era o cara que me faria superar isso, o cara que tinha entedido e que iria me levar até a solução, que tudo entre nós dois tinha sido diferente do que com qualquer outro cara com eu tinha tido um relacionamento mais ou menos estável. você me surpreendeu - como sempre - dizendo as coisas que eu queria ouvir, com a maior naturalidade, e tava na cara de que não era calculado, e que você não dizia apenas porque era o que eu queria ouvir, mas porque era o que você sentia. você tinha simplesmente ficado com raiva. e se desculpou também. você admitiu que tudo que você tinha gritado, berrado, era mentira, que você me amava bem no sentido e com o significado da palavra "amor".

acho que foi a nossa briga mais séria, em que eu tive que perceber o quanto eu precisava de você, só vendo que eu realmente corria o risco de nunca mais sentir o seu perfume pra me acalmar.

eu amo quando você me enrola nos seus braços, faz com que eu me sinta segura, me faz sentir o calor dos nossos dois corpos unidos, quase formando um só. eu adoro o jeito negligente que você tem de passar a mão no seu cabelo, jogando-o pra trás; e eu adoro enrolar nos dedos essa mecha que insiste em cair na frente dos seus olhos. eu amo quando a sua boca toca a minha, eu estremeço a cada vez que o seu dedo toda qualquer lugar do meu corpo. você me faz sentir uma deusa, a mais bonita, a melhor. me faz sentir que não importa o que aconteça, tudo vai ficar bem se você estiver comigo.

você interrompeu todos esses meus pensamentos quando eu cheguei perto de você e vendo meus olhos perdidos ainda quando eu estava me aproximando, me deu um beijo na testa e disse:

- viajando no seu mundo de novo, meu amor?

e eu pensei: meu deus, definitivamente, é ele.

outubro 27, 2009

inovação?


outro dia me surpreendi olhando as crianças brincarem no pátio da escola primária perto do meu colégio. todos inocentes, correndo de um lado pro outro sem preocupação nenhuma. meninas correndo atrás dos meninos pra "bater" neles, mas todos nós sabemos é que elas gostam deles e só querem chamar atenção.

eu lembrei de quando era eu a menina correndo, sem preocupação e inocente. tá, na verdade eu não lembro tanto assim, já que, pra mim, as preocupações e vai-e-vem's foram as coisas que marcaram diversas épocas da minha vida. mas eu lembro da época em que eu ter quebrado o copo era o fim do mundo, porque eu achava que a minha mãe ia brigar comigo.

essas crianças no pátio não têem a menor idéia do que as espera lá fora. a hiprocrisia, o preconceito, a ambição, a falta de escrúpulo cotidiana... todas as coisas que dia após dia me faz sentir nojo do ser humano.

todos são conformistas demais para mudar qualquer coisa. quem tem noção do tamanho do problema não se ilude em achar que vai conseguir resolvê-lo, até porque é difícil combater um fantasma. e agora, tudo aquilo que para nós era facilmente evitável, acabou sendo não-tão-fácil de ignorar. e ninguém quer admitir o lodo que cobre as nossas ações.

ninguém fala sobre a morte. grande afronta à vida. se estivéssemos coletivamente bem e fortes, seriamos capazes de encarar a morte de maneira civilizada. o desespero de estar à margem de uma revolução que ainda não está acontecendo é demais para qualquer um de nós.

vocês já perceberam a ironia que tá acontecendo? os homens estão querendo correr atrás daquilo que eles estragaram. digo, eles tinha tudo, estragaram tudo (e aliás, continuam estragando, até o dia em que a natureza realmente mostrar que eles passaram dos limites, aí eles vão querer correr atrás, muito mais do que já estão correndo), sem nenhum escrúpulo e sem pensar, isso porque os "seres humanos" são considerados animais racionais e diferentes dos outros animais por PENSAREM (olha a ironia!) e agora estão querendo correr atrás.

aquecimento global, terremotos, tsunamis... são apenas algumas das reações ambientais que acontecem com a poluição, a falta de apego e amor à terra em que vivemos. pra que amar a terra cara? vamos amar aquele vocalista daquela banda super-nova e super-tendência que nem sabe que você existe.

essa juventude, que teoricamente é a "juventude inovadora" está muito ocupada se alienando e se preocupando com o próprio umbigo pra inovar qualquer coisa. livros? dá pra ficar louco na night com isso? conhecimento? vou conseguir ir para porto seguro e comprar o novo nike se tiver isso aí?

por favor, não estou falando que a juventude não pode se divertir, que ninguém pode sonhar com uma viagem de formatura, que ninguém pode fumar, beber, se drogar, ficar irritada por coisas pequenas, chorar por algo estúpido ou ter uma ambição por um tênis novo. aliás, a adolescência é isso, mas não precisa ser só isso; até porque eu mesma conheço e sei que tem dias que você fica puta por ter uma espinha, não ter espaço suficiente no iPod, querer aquela blusa nova, enfim, vários "problemas" fúteis que podem ter algum impacto pequeníssimo diariamente, mas que fazem parte dessa nossa vida.

o problema é que hoje em dia, a juventude vive disso, e a juventude é só isso.

todos meus amigos são loucos, ou burros. ninguém é mais capaz de assimilar tudo o que está acontecendo. todos querem que o inimigo se desmascare para podermos lutar contra ele. mas todos nós achamos que nossos problemas pessoais são tão únicos, e tão problemáticos, que passamos nossas vidas olhando para nossos umbigos, sentindo pena, alegria, desilusão, e tudo que acompanha.

e isso tudo, vai dos problemas naturais e ambientais, até os pessoais. amor, amizade... são pouquíssimos e raros os que conseguem ter relacionamentos amorosos e amigáveis realmente verdadeiros. porque, ultimamente, as pessoas que você achava conhecer muito bem, passam por cima de você só pra chegar ao próprio interesse; as pessoas te apunhalam pelas costas pra chegar ao objetivo da própria ambição.

os amigos verdadeiros eu conto nos dedos, e do resto, só me resta desconfiar.

e você, tá de que lado?

outubro 25, 2009

sol e brisa quente


em outras palavras,
"o mundo não é apenas raios de sol e arco-íris. é um lugar desprezível e desagradável... e o quão valente você seja, não importa, ele vai te bater nos joelhos e mantê-lo lá permanentemente, se você deixar. você, eu ou ninguém, vai bater tão duro como a vida. mas não é sobre quão duro você bate... é sobre quão duro você pode começar a batida, e continuar a avançar... o quanto você pode pegar e continuar a avançar. isso é como "ganhar" é feito. agora, se você sabe o que vale a pena, saia e consiga o que vale a pena. mas você tem que estar disposto a assumir as pancadas. e não apontar dizendo: "você não é o que você quer ser por causa dele ou dela ou de ninguém". covardes fazem isso, e isso não é você! você é melhor do que isso!"

eu tinha cansado. aliás, todo mundo cansa e explode de vez em quando. e pensar que acontecia com todo mundo, era como uma espécie de conforto pra mim; pelo menos ainda restava algo de normal aqui dentro. mas o problema é que acontecia freqüentemente (claro! eu sempre precisava achar um problema).

foi aí que, voltando do centro, depois de um dia completamente cansativo, cumprimentei a minha amiga pra dar tchau ("la bise", um beijo em cada bochecha) quando tinha chegado no ponto de tramway mas perto de casa, nomeado Santos Dumont.

como já era de se imaginar, as ruas do meu quarteirão estavam vazias e o som do salto da minha nova bota bege de camurça, que eu tinha conseguido numa pechincha na Zara por 20€, parecia alto demais e começou a me irritar também. eu com certeza parecia ridículamente ridícula naquele salto de 5cm, mas ele pelo menos contribuia na minha tentativa, em vão, de parecer ter um tamanho proporcional à minha idade; pelo menos as botas combinavam com o meu casaco de couro marrom comprado na Pimkie e o meu jeans comprado no Brasil.

eu me sentia vazia, algo que tinha se acentuado com o passar dos dias nessas duas últimas semanas. o vazio já tinha se tornado meu companheiro há tempos, se escondia num cantinho de mim, e de vez em quando aparecia pra dar um sinal de vida. em tanto tempo de convivência com ele, ele acabou se tornando o meu cheio. era até legal quando ele vinha me visitar, eu sabia como agir e como aproveitar a estadia dele; eram momentos de paz, onde o vazio era um ponto de encontro comigo mesma e uma serenidade que outrora havia me soado completamente sacal.

eu poderia muito bem ter ido direto pra casa, e me fechado no meu quarto, esperando o vazio passar. mas eu queria mudar essa impressão de nada que eu tinha, isso não precisava ser algo triste. foi aí que eu desci a rua, ao invés de virar a esquerda e ir pra casa. eu desci a rua e entrei naquele caminho estreito que levava direto para um parque que era pouco freqüentado. minha mãe achava perigoso ir lá, já que era vazio e poderia aparecer um seqüestrador, estrupador ou qualquer outra coisa com "or" e me pegar. mas eram 16h e o sol ainda tava quente, esses caras geralmente gostam de entrar em ação às 18h chuvosas.

a minha vida e rotina tinham se tornado cansativas, e acho que foi por isso que o vazio chegou pra mudar as coisas. acho que ele me conhece bem, e sabe que normalidade demais acaba me irritando.

desci o pequeno caminho, e passei pela minúscula ponte que atravessava um rio que nem água direito tinha. passei por um banco que ficava do lado de um lixo, onde numa tarde, eu tinha sentado com um cara, e pela primeira vez no nosso relacionamento precário de 1 mês, tinha sentido que ele queria ir embora, e estava quase me forçando a ir encontrar a minha amiga. não, não ia ficar naquele banco, esse cara tinha me dado muita pena nos últimos dias, e acho que nem a minha piedade ele tava merecendo. continuei em frente, passei do lado daquelas árvores verdes que refletiam os raios de sol e os enviavam direto ao meu pescoço, me esquetando e fazendo-me sentir um calor morno, que era agradável. passei do lado de um outro banco. lembra quando a gente quebrou garrafas de cerveja ali? você tinha conseguido acertar uma no ângulo do banco! foi um momento pueril, que nos fez rir bastante. continuei em frente, até chegar ao meu destino.

eu adorava aquele caminho de pedras brancas, e gostava ainda mais dele porque as árvores o cobriam com uma harmonia remarcável. e só havia um pequeno espaço onde o sol penetrava sem ser barrado pelas folhas. eu coloquei a minha bolsa no chão, tirei o meu casaco de couro e deitei ali. meio na grama, meio nas pedras, com a cabeça na clareira. ninguém ia passar por ali, todos estavam muito ocupados em filas de banco, filas de caixa em lojas, supermercados, presos no trânsito, bebendo cerveja na padaria ou qualquer outra coisa que se faça numa quarta-feira à tarde, então não tinha que me preocupar sobre o fato de parecer ridícula deitada no meio do nada, no caminho de um parque.

a sensação do sol esquentando o meu rosto foi uma das melhores que eu senti nos últimos dias. deixei o sol esquentar minhas pálpebras até enxergar apenas um vermelho-meio-laranja-meio-rosa. eu deixei a brisa bater, entrar entre os fios dos meus cabelos, sacudir a minha roupa, escorregar na minha bochecha aquecida pelo sol... e simplesmente me refrescar. eu não estava pensando em nada, algo que não tinha me acontecido há meses; a minha cabeça sempre estava cheia de atitudes inúteis, coisas irritantes e provas no dia seguinte.

o sol absorveu cada molécula impura que estava presente em mim, e a brisa levou junto com ela as irritações diárias, me deixando limpa. e foi aí que eu descobri que, finalmente, ao contrário do que eu pensava, eu poderia aguentar o amanhã, eu poderia ser mais forte que hoje e poderia viver, não intensamente como tinha vivido nos últimos 13 anos, mas simplesmente viver e não deixar escapar essa oportunidade de vida, e aproveitar um pouco, pra não deixar o tempo passar em vão.

outubro 24, 2009

a half


eu não sei nem se eu conheço essa outra metade de mim, essa que eu vou tentar descrever, e apresentar pra vocês, caros (e raros) leitores. mas eu vou pelo menos tentar né.
o meu problema com as apresentações sempre foi o mesmo: eu nunca sei por onde começar. nem eu sei quem eu sou, como eu posso passar uma imagem de mim mesma pra alguém?
enfim, vamos tentar. meu nome é Mariana, e eu não tenho nenhum apelido particular; apenas os clássicos do tipo: mari, má, meu amor, meu anjo, meu coração etc. enfim, faço aniversário no dia 23 de janeiro como mais de 683540 pessoas, o que me torna alguém banal. sou, então, de aquário e acredito nos horóscopos. aspirante ao amor, minhas relações amorosas deixaram a desejar.

nasci no Brasil, mas agora moro na França. é, França, o país que fica na Europa, onde as pessoas falam francês, tomam banho (antes que você me pergunte) e onde Luís XIV reinou no século XVII. não, eu não moro em Paris, mas se você quiser comprar um apartamento lá e me dar de presente, eu não vou me importar (seja bondoso e compre um no 16ème). me mudei pra cá em fevereiro de 2008 sem saber falar nem "bonjour". a cidade na qual eu moro chama Nantes, no noroeste da França. antes de morar aqui, eu morava em Migennes (uma cidade pequena na região de Bourgogne) na casa da minha avó (enfim, quase-avó, mãe do meu padrasto). meus pais se divorciaram quando eu era muito pequena, o que faz com que eu considere o meu padrasto como se fosse meu pai biológico. tenho duas irmãs, mas admito que sou, sem dúvida nenhuma, um pouco caprichosa, egoísta, possessiva e mimada, como vocês gostam de dizer.

quando eu era pequena, eu era loira e tinha os olhos azuis; atualmente, eu faço luzes e pintei a metade-de-baixo do meu cabelo de preto. sou pequena pra minha idade, tenho 14 anos, meço 1,58m e não me acho magra. sou apaixonada por livros. adoro piercings e tatuagens; tenho um piercing no nariz e uma na orelha. pretendo fazer um na língua e tatuar uma clave de sol no pulso aos 18 (visto que a minha mãe não vai me dar a autorização antes). se você tirar meu iPod de mim eu viro um rotweiller, não vivo sem música e costumo dizer que a minha vida tem trilha sonora; existem músicas que marcaram diversas épocas da minha vida.

nunca tenho certeza e às vezes preciso ser encorajada. eu enjôo rápido de coisas, hábitos e, por mais que eu lute contra isso, pessoas; é um defeito no qual eu ainda estou trabalhando. sou lunática e meio ciumenta, mas não enlouquecidamente ciumenta ou neuroticamente ciumenta, tudo tem o seu limite, e eu, na maioria das vezes, controlo (ou tento) os meus. sou legal e simpática, mas se eu não for com a sua cara, cabe a você conquistar a minha simpatia. as pessoas geralmente me dizem que eu preciso desconfiar dos outros, existem muitas pessoas que confudem "gentileza" com "burrice"; e pode ter certeza que eu aprendi a diferenciar essa duas coisas, e não é muito fácil me enganar, a não ser que eu confie em você.

eu acho que estou sempre à escuta dos meus amigos e aberta de espírito; eu faço de tudo pra ver as pessoas das quais eu realmente gosto sorrirem. eu sou alérgica ao esporte forçado, digamos assim, então eu pratico raramente e não adianta me forçar; eu só pratico pra obter a média em educação física. não gosto de homofobia, intolerância e beterrabas. eu queria saber tocar violão, mas fui tão dotada com coordenação motora, que desisti. gosto de animais, tenho duas cachorras, Wendy e Naná, e eu as amo enormemente. quando eu morar com o Rafa e o Fafis, pretendo ter dois furões. acho que nunca me explico direito e sou confusa, uma das coisas que você mais vai me ouvir dizendo é "sei lá" e "não sei".

não sou enjoada pra comida e já tive um período de vegetarianismo que durou mais ou menos 8 meses. amo pastel e pizza (mas nunca, NUNCA coloque cebola), e tomar sopa pra mim é o fim do mundo. odeio pessoas briguentas que brigam por motivos completamente estúpidos e que se acham melhor que os outros. sou volúvel, o que faz com que eu supere as coisas mais rápido do que você imagina, em outras palavras, consigo te contar a minha maior tragédia morrendo de rir. tenho mania de escrever com letras minúsculas depois do ponto, a não ser nas redações e provas da vida. adoro ficar em casa sozinha e colocar o som na maior altura. bandas favoritas? The Killers e Cobra Starship. sou eclética e escuto de tudo um pouco, do rock clássico, passando pelo funk até o eletrônico, mas gosto muito de música indie. odeio modas e fujo delas o máximo que eu posso.

amo café e capuccino. pessoas limitadas me fazem fugir. meus amigos me completam, e até os estranhos que me elogiam ou fazem críticas construtivas também. consigo viajar sem sair do lugar e sempre tento deixar um pouco de mim nos outros. sou extremamente orgulhosa e só abaixo a cabeça quando a pessoa e a situação valem a pena. já parti corações e já tive o coração partido, pisado e estilhaçado. me apego e sofro com a não-reciprocidade. invento mentiras e insisto tanto nelas que até eu acabo acreditando. crio personagens sobre mim mesma na minha cabeça, contextos, histórias fictícias em busca de uma vida menos chata do que a que eu vivo. algumas vezes eu acho que me descrevo, com características boas ou ruins, mas na verdade é pura imaginação. acho que serei eternamente insatisfeita. quando eu choro é até me desidratar e quando eu rio é até ficar vermelha, com a barriga doendo, lacrimejando e a respiração irregular. (...)

por que "a book half unread"? simplesmente porque acho que todos conhecem apenas metade de mim (poucos tiveram o privilégio, e ainda têem, de conhecer mais da metade) e eu me considero um livro, talvez aberto. até eu acho que não me conheço por inteira. então, esse blog foi feito no intuito de me expressar e talvez, aos poucos, deixar vocês descobrirem mais sobre mim.