agosto 20, 2010

demasiado

Pela primeira vez da semana, eu tinha acordado cedo. Eu era apenas um resto naquela manhã. Resto de cigarros fumados escondidos durante a noite, de desenhos abstratos, de letras rabiscadas num caderno em busca de uma explicação e de uma garrafa de vodka vazia no fundo do meu armário. Era isso que eu era. Eu esperei a noite toda e a semana inteira apenas um sinal, apenas alguma coisa que me mostrasse que você ainda estaria ali. Alguma coisa que me mostrasse que confiar nas pessoas ainda fazia sentido. Me enganei. Meu celular permaneceu mudo. Eu admito que eu quis e hesitei muito. Quis mesmo encher a sua caixa postal de mensagens te dizendo que você era um canalha, te dizendo que quando eu disse que não confiava em você, deveria ter permanecido desse jeito ao invés de passar a confiar nas suas palavras cuspidas, mal formadas, mentirosas e vãs. Eu quis te dizer muita coisa. Quis ir bater na porta da sua casa em plenas 3h40 da manhã e falar "Eaí, tá morto? Sumiu porque, ô imbecil?". Como alguém pode ser tão estúpido? Mas é óbvio que eu nunca faria nada disso, eu nunca te mostraria que me importo e que passei cada dia dessa semana esperando uma mensagenzinha, qualquer coisa por mais piegas que tivesse sido, mesmo se eu não acredito mais, mesmo se eu não boto mais fé nenhuma nessas suas palavras horrorosas roubadas de algum filme de ação mal-feito.

Mas, tanto faz. E eu te digo isso do fundo do meu coração: TANTO FAZ. Eu me importei, mas no fundo sabia que tudo isso tava certo, que era exatamente assim que tudo deveria acontecer pra que eu não me perca nas suas mentiras, pra que eu não me apaixone realmente por alguém que você não era, por alguém que eu não deveria me apaixonar. Na noite daquele dia, eu senti raiva, senti tristeza, sim. Mas, por fim, senti alívio. Senti um alívio enorme de não estar mais presa à alguém. Aquele alívio, aquela liberdade que você sente quando consegue resolver um problema. Pois é, eu consegui resolver o meu.

Eu odeio gostar de alguém (ia falar "me apaixonar", mas acho que seria exagero), é a coisa mais abominável que pode acontecer comigo. Ainda mais quando é por pessoas como você; que não querem saber de nada, que não ligam pra nada. O pior é que é o tipo de gente como você que mais me atraiu e mais me atrai nesse mundo. Eu sei, eu sei, não sou coerente e bababá. Eu odiava aquele sentimento de a cada noite querer te abraçar e te sentir. De sentir falta do seu cheiro, do seu olhar verde-azeitona detalhando o meu rosto hipócritamente. De você beijando minha testa e minha cabeça de um gesto protetor. Era horrível sentir isso, e eu me sinto aliviada de me sentir bem ao passar todas essas noites comigo mesma.

Mas, por incrível que pareça, eu não chorei por você. Você não vale as minhas lágrimas, eu só sinto pena de você. Fiquei com muita raiva, mas a cada palavra escrita cheia de raiva com aquela caneta que jorrava tinta pra todo lado de tão forte que eu a apertava contra aquela folha, eu desejava te ver. Te ver e obter respostas. Entender um pouco a sua atitude. Isso não me faria voltar pra você, sou muito orgulhosa pra isso, apenas queria entender. Mas tanto faz.

Naquela manhã eu acordei cedo, e me sentei na sacada, de frente ao meu jardim. Eu sentei ali, e senti o sol penetrar na minha pele ainda com marcas do lençol. Pensei em tudo. Valia mesmo a pena ter me desgastado na noite anterior esperando algo? Não... Pessoas como você não valem isso. Eu acendi um cigarro. E cada trago, a fumaça que saía, era um pouco de você que ia embora de mim. No fim, eu me senti livre. Livre de você. Eu vou seguir em frente, sem você, e isso, a partir de hoje, não vai me fazer falta. Eu não me apaixonei, foi pouco tempo, poucos gestos, poucas palavras, poucas demonstrações. Eu talvez tenha me apegado e tenha gostado. Mas tudo isso não é nada. Nada comparado ao que eu já vivi, ao que já me deram em termos de amor, ao que eu posso oferecer. Foi apenas mas uma curta história que foi por água a baixo, e que não me marcou, saiba disso. Tudo que você fez, foi apenas um replay, nada que já não tenham feito antes. E é isso. Te agradeço por ter me proporcionado alguns pseudo-sentimentos bons, mas eu não me procure mais.

E eu sei que você não vai procurar.

Nenhum comentário: