dezembro 19, 2009

Caio Fernando de Abreu

adoro esse.
traduction: você pode não ser o primeiro dela, o último, ou o único. ela amou antes, ela vai amar de novo. mas se ela te ama agora, o que mais importa? ela não é perfeita - você também não, e vocês dois podem não ser perfeitos juntos, mas se ela conseguesse te fazer rir, fazer você pensar duas vezes e admitir que cometer erros é humano, agarre-a e dê à ela o máximo que você puder. ela pode não pensar em você durante todos os segundos do dia, mas ela vai te dar uma parte dela que ela sabe que você pode quebrar - o seu coração. então não machuque-a, não mude-a, não a analize e não espere mais do que ela pode te dar. sorria quando ela te faz feliz, deixe-a saber quando ela te deixa louco, e sinta a saudade dela quando ela não estiver com você.

*

"E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom pra você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente
o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, no tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que o amor não começa quando o nojo, a higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpa, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se o amor for a coragem de ser bicho. Se o amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também."
Caio Fernando de Abreu.

Um comentário:

Le fils de la mort disse...

Adorei a desconcertante sinceridade com que o amor foi descrito, em todos os seus íntimos detalhes. Sem contar a poesia eterna de Bob Marley, com suas profundas intuições sobre os mistérios do coração.

Os dois textos formam um excelente conjunto, muito instigante e reflexivo. Parabéns pela escolha! Até a próxima!