abril 30, 2011

Eu lembro daquele dia como se fosse ontem, lembro de tudo...

Eu lembro de seus doces lábios e da pressão fina desses últimos sobre os meus que fazia um eco na minha cabeça que não parava de repetir "sim".

O calor crescia em mim, parecendo ondas de luz que incham antes de se quebrar, esse calor agradável, sem suor, me dava a sensação de flutuar. Os seus dedos que encontravam um caminho por entre meus cabelos, que desciam pela minha nuca e escorregavam pelos meus ombros, fazia o meu corpo todo estremecer. E eu, que sem ter decidido, me encontrava à passear minhas mãos sobre seus omoplatas, embaixo de seu rosto, sentindo aquele sua barba de dois dias, gostava de sentir o teu corpo estremecer também. Eu sentia uma sensação tanto desconhecida quanto deliciosamente nova.

Meu coração estava disparado, batendo em pânico de um jeito que eu nunca tinha o visto bater antes. TumTum - TumTumTum. Os batimentos eram tão fortes que era até doloroso. Mas era uma dor agradável. E eu, ali, rezava pra que esses batimentos, que naquele instante estouravam meus tímpanos, estivessem sendo ouvidos apenas por mim. Não sei como, mas tinha perdido o controle. De mim, dos meus pensamentos, da minha razão... Então eu sentia o seu coração panicando tanto quanto o meu sob a palma da minha mão, como se seus batimentos estivessem respondendo aos meus. Como se nossos corpos estivessem comunicando. Era incrivelmente desconcertante e incrivelmente delicioso. Era incrivelmente agitado, e ao mesmo tempo calmo e tranqüilo. Eu sabia que uma hora ou outra eu iria quebrar a cara. Mas eu estava pouco me fudendo pra tudo isso. Foda-se !

Apoiados contra o cimento daquele estacionamento que nos impedia de cair na rua e de nos espatifarmos contra o asfalto, contemplávamos o pôr-do-sol. As cores daquele instante ficaram marcadas na minha mente : aquela mistura de rosa, laranja, roxo. E os últimos raios de Sol que diziam adeus àquele dia maravilhoso penetravam por entre os prédios, e a gente apenas decidiu parar e olhar. Eu acho que poderia viver pra sempre naquele momento, com o seu braço em torno de mim, sentindo o seu cheiro de sabonete, roupa limpa e perfume doce e querendo saber no que você estava pensando.

Eu sempre adorei olhos claros. Mas em seus olhos castanhos eu encontro uma beleza que nenhum olho azul-piscina ou verde-grama tenha. Talvez isso seja devido à forma como você me olha, com aquele brilho, querendo ver além. E aliás, ali, naquele lugar, olhando todos aqueles prédios, eu sentia que você estava pronto pra me mostrar o mundo, cada pedacinho dele.

Jogávamos conversa fora, fazíamos planos e promessas que sabíamos que não durariam mais do que um mês. Mas, no fundo, também sabíamos que iríamos ter um longo tempo pela frente para poder realizá-los. Eu bebia cada uma das suas palavras. E talvez se você me tivesse dito que era agente secreto e que estava no país apenas pra proteger testemunhas de um caso ultra-secreto, eu teria acreditado piamente. A confiança tinha atingido o auge.

Lembro dos teus olhos detalhando meu rosto e, isso, pra mim, era a melhor das carícias que eu já tinha recebido. Lembro também de ter sentido a sensação de que você estava detalhando tudo, gravando tudo na sua cabeça pra não esquecer de nada. Eu lembro também daquelas palavras que dissemos. Aquelas palavras que saíram da garganta, passaram flutuando sobre a língua e acariciaram tanto os lábios de quem disse quanto as orelhas de seu destinatário. Aquelas palavras que me fizeram pensar que o meu lugar, o nosso lugar, era ali, e em nenhum outro canto do mundo. Eu. Você. Nós.

E, de repente, uma evidência me veio à cabeça, com tal potência que era até ridículo, que me dava quase vontade de rir. Ali, descobri o que eu quero. O que eu sempre quis. Todo o resto, cada segundo e cada dia que precediam aquele instante, o nosso beijo, as nossas conversas, não significavam nada.

E um tempo depois eu iria descobrir que não importa o que eu faça, eu sempre acabarei te procurando em outras bocas, em outros corpos enquanto não tiver entre teus braços, e enquanto eu não tiver minha cabeça descansando no teu peito.

E, sinceramente, acho que nem se eu tivesse me espatifado no chão e caido do alto daquele estacionamento eu teria ligado. E eu tinha apenas um pensamento na cabeça : "Eu vou morrer desse amor, eu vou morrer desse amor, eu vou morrer desse amor. E eu não ligo."

- Eu te amo. - ele sussurrou em sua orelha, num tom de confidência, como se fosse algo que eles deviam proteger.
- Eu também te amo. - ela respondeu sorrindo, sussurrando em sua orelha e em seguida contemplando o sorriso que ela tinha arrancado dele.

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