fevereiro 02, 2010

sobre cigarros e recomeços. parte I

qual contexto é o melhor pra um coração quebrado? frio e cigarro.

eu estava lá sentada no ponto do tramway, apenas pensando o quanto eu cansei desse inverno, e que eu provavelmente estava parecendo uma palhaça com as minhas bochechas e nariz vermelhos de tanto frio. estava tentando - em vão - me esquentar com o meu cigarro, mas eu acho que ele não riscaria de me fazer voltar a sentir os meus dedos do pé.

estava tão concentrada tentando esquecer do frio e tentar me focar apenas no gosto de menta do cigarro que nem vi que ele tinha se aproximado e que ainda por cima estava falando comigo.

na verdade, eu comecei com a tática de me concentrar no gosto de menta depois de ter tentado a tática de olhar para um cara bonito ao redor e ficar admirando-o e pensando sobre a vida dele, o que ele vai fazer quando chegar em casa, onde ele estava ou sei lá o que diabos mais; tava apelando até pra minha imaginação fracassada, pra você, ver como eu estava com frio. e eu também queria esquecer o fato daquele outro canalha ter acabado com o meu coração, eu já tinha decidido seguir em frente, do que vale ficar presa no passado?

- oi, desculpa, mas você tem um cigarro?

eu não conseguia nem me mexer de tanto frio, estava congelada e o cara vem me pedir um cigarro? pelo amor de Deus, como ele ainda conseguia articular as palavras (aliás, belos lábios. e dentes também)? se ele tivesse pedido o meu número de telefone teria sido melhor.

- uhum, pega aqui no bolso da direita.

ele não achou que eu ia tirar minha luva pra dar um cigarro pra ele né? eu até poderia pegar pelo menos o maço com a luva, só que a minha mão com a luva simplesmente não entravam no meu bolso. ele era bonitinho, mas não um deus grego ao ponto de eu tirar a minha preciosa luva.
enfim, ele pegou o cigarro e colocou o maço cuidadosamente no meu bolso de novo.

- hmm, er, você tem fogo também?

ah, ele tava abusando! eu sei que ele também queria se esquentar e estava com a esperança do cigarro esquentar ele, mas eu tava quase falando pra ele desistir. e eu teria falado se ele não tivesse aquele olhar... aquele olhar... hm, não sei como defini-lo. era um olhar azul claro cheio de doçura que pareceu entrar dentro da minha alma quando eu cruzei. era intenso.
e eu não ia pedir pra ele pegar o isqueiro no bolso da minha bunda né. e pelo menos pra pegar o isqueiro eu não precisava tirar a luva.

- aqui.
- obrigada.

então ele acendeu o seu cigarro, tragou e me devolveu o meu isqueiro. e foi assim, que entre um trago e outro, a gente se conheceu. o tramway parecia estar se atrasando de propósito, mas eu não liguei, porque a conversa acabou ficando boa.

ele não era nem super-sensível nem macho-man, era o meio-termo que quase todas querem. ele foi a segunda pessoa (depois do gabriel, já que foi ele que me mostrou o filme) que tinha assistido The Science Of Sleep por influência do Eternal Sunshine Of The Spotless Mind e a imaginação, contexto e tudo aquilo que só o Michel Gondry conseguiu trazer num filme. pela primeira vez eu tinha encontrado um cara cujo filme preferido não era Scarface. e eu nem lembro como a gente tinha passado de frio à filmes. e aí foi o assunto música, e ele tinha um gosto bom também, até conhecia Cobra Starship, mas não gostava de The Killers, tudo bem, ninguém é perfeito.

foi aí que eu levantei a cabeça pra ver em quanto tempo o tramway ia chegar que eu vi. tinha tido um acidente, e a porcaria da linha tava cortada. não preciso falar o quanto eu fiquei puta né? eu teria que andar até em casa. eram mais ou menos sete pontos de tramway até a minha casa. SETE PONTOS. acho que puta era até uma qualidade insignificante pra caracterizar o meu estado.

fomos andando, já que a gente ia pegar o tram pra mesma direção. mas foi só no meio do caminho que me passou pela cabeça que eu não tinha perguntado onde ele morava. eu perguntei. ele respondeu. e adivinha? ele morava tipo, à uma quadra da minha casa, e eu nunca tinha visto ele,nunca. talvez porque eu sempre esteja ocupada demais tentando organizar meus pensamentos, ou falando no celular, ou ouvindo música etc.

ele era uma pessoa realmente legal, e o sorriso dele era lindo, ainda mais com aquela covinha que aparecia do lado esquerdo da bochecha dele a cada vez que ele sorria. e aqueles olhos que eu não conseguia mais parar de olhar? eram tão claros, tão profundos, e o olhar dele era tão... único.

eu sei o final de história que vocês estão esperando. o mocinho leva a mocinha pra casa e rola aquele beijo de cinema na frente da porta. mas não aconteceu. ele foi cavaleiro e me levou até em casa sim, a conversa tava boa. mas nada de beijo. aí nós trocamos nossos números, msn e nos adicionamos no facebook.

os dias seguintes foram mais ou menos a mesma coisa. mas nesses dias eu rezava pra que tivesse tido um acidente ou sei lá o que no tramway pra que eu pudesse andar até em casa naquele frio conversando com ele. isso é meio masoquista né? eu sei. mas ele era encantador. e me esperava pra ir pra casa, mesmo se não tinha acidente, a gente conversava o trajeto inteiro e ele me levava até a porta de casa.

toda noite eu sonhava com a boca dele, com aqueles lábios que pareciam ser tão doces. o perfume dele ficava impregnado nas minhas roupas, como tava frio nós procurávamos ficar sentados perto um do outro, pra tentar se esquentar.

um dia, na frente da porta da minha casa, quase aconteceu. a gente sentia que ia acontecer, mas não aconteceu. só houve um beijinho na bochecha de despedida. como todas as vezes. nada de anormal.

até que, mais tarde, quando eu estava saindo do meu banho, eu ouvi meu celular tocar. você precisava ver o desespero da garota saindo correndo do banheiro até o quarto toda molhada, de toalha e quase escorregando no corredor. respirei 2 vezes e atendi.

to be continued.

Um comentário:

Unknown disse...

Não vejo a hora de ver o final dessa história, ou quem sabe, o início...
Estou adorando seus textos, estarei sempre esperando novos textos. =*