maio 19, 2011

Cartas

Eu estava ali, batendo a ponta da caneta no papel, tentando pensar no que escrever. Durante esses dias tinha te escrito tantas cartas. Na minha cabeça. E em todas elas eu te dizia coisas que talvez eu nunca diga de verdade. Mas de frente ao papel, não saia nada e aquelas linhas me torturavam. Eu queria e insistia em escrever algo. Maldita teimosia. De certa forma, eu tinha cansado de todas aquelas palavras estarem apenas no pensamento. Queria compartilhar com a caneta. Já que provavelmente não teria coragem o suficiente pra te entregar a tal da carta. Talvez fosse intenso demais, expressivo demais, impulsivo demais, assustador demais pra que eu pudesse deixar alguém ler. Ou até você.
E foi então que eu comecei a tentar organizar todas aquelas letras, palavras em frases coerentes.

Eu sinto muito.
Nada nessa vida nunca foi fácil e talvez tudo continue a ser difícil durante um bom tempo ainda. E eu queria estar aí. Eu queria te ajudar quando você não estivesse bem, estar aí pra te confortar. Doar um pouco mais de mim. Mas o que fazer ? Olha só, logo eu, que sempre tive uma resposta pra tudo, uma saída estreita onde que resultasse num final doce, tô fazendo uma pergunta dessas. Eu, que sempre achei a metáfora certa pra explicar, pra dar um corpo ao pensamento que não se explica. Você pode me explicar ?
Tô viva, tô levando, tô indo, vamos lá. Pra onde eu não sei. Me diz ?
Eu tentei de novo com outro apesar de saber que nunca daria certo. E realmente, não deu certo. Nessas horas eu vejo o quanto eu preciso.
Me desculpa. Você merece melhor. O que estamos fazendo ? Você merece melhores condições do que essa. E se não nos virmos nos próximos 2 anos, você ainda vai me guardar no peito ? Quando você ouvir meu nome, você vai ter lembranças boas ? Fique se você ainda gosta dessas correntes. Pra mim, esse ferro se tornou a mais doce das sedas. E pra você ?
Minha força eu deixei contigo. Se pra ti ainda faz sentido, bota um pouco mais da sua e vamos embora. Guarde tudo isso e vamos pra frente, à diante, em frente. Vamos aguentando, capengando, rastejando. Mas vamos dar um pouco mais de si pro outro, dividir as forças. Alimentar as idéias com flores, já que o mundo e o destino nos alimenta com merda.
Eu não queria guardar o silêncio, mas eu penso demais, pergunto demais. Pede pra eu calar a boca, pra eu parar de pensar. Cadê você pra fazer isso ?

Estava frustrada. Frustrada, mas calma. Deitei na cama. Merda, tinha acabado de escrever a pior carta da minha vida. A mais imbecil. Deitada, me abandonei à idéia de ser incompetente. De não conseguir nem escrever frases simples. "Oi, tudo bem ? Aqui tudo vai bem. Eu tô com saudades." Nem isso eu conseguia. Soava neutro. Sem profundidade.
Mas pra que ser profunda ? Pra que escrever cartas ? Pra que tentar e insistir em encontrar coerência no incoerente ? Isso. Isso que nós somos ! Incoerentes.
Precisava da calmaria. Precisava abafar meus pensamentos. Coloquei a lista aleatória pra tocar.

And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you

Lembrei de pequenos detalhes. Sorri. Uma lágrima escapou.

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