novembro 25, 2009

forma mais prática de dizer "não quero mais te ver"

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo."
Lixo e Purpurina - Caio Fernando Abreu

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« eu preciso de um tempo pra mim »

foi o que você me disse antes de me dar um beijo na testa, pedir pra eu "me cuidar", virar as costas e ir embora. eu acreditei piamente nessa sua desculpa esfarrapada, e olha que eu nunca acreditei tanto assim nelas, eu só fingia; gostava de te ver com aquele sorriso estúpido de vitória achando que tinha me enganado. um sorriso estúpido, meio do canto da boca, que me seduzia. mas dessa vez eu tinha acreditado. como era a última desculpa sua que eu ia ouvir, eu resolvi acreditar. eu fiquei me culpando, pensando que se eu tivesse exigido menos, perguntado menos... você ainda estaria aqui; depois eu me absolvia: não teria sido eu mesma e teria sido uma dessas garotas tapadas e submissas aceitando tudo o que você dizia.

eu acreditei na desculpa. acreditei até o dia em que eu vi com os meus próprios olhos o que todos os meus amigos tinham trabalhado engenhosamente há semanas pra esconder de mim. você tava lá, sentado, junto com os seus amigos, rindo e conversando. eu poderia ter achado essa cena super normal, deveras banal, se aquela garota não estivesse sentada no seu colo. se você não estivesse com a mão na coxa dela. essa cena estragou a minha noite. puta que pariu, eu fui pega de surpresa, logo eu que evito ao máximo esse tipo de surpresa desagradável!

eu fui sentindo a raiva subir da minha barriga, estremecendo toda a minha coluna vertebral, congelando o meu peitoral e os meus ombros, até chegar ao pescoço e começar a pinicar minha bochecha. você não sabe a vontade que eu tive de ir até lá, depois dos meus trocentos copos de whisky, vodka, ou qualquer outra merda que estivessem servindo no bar, e gritar com você. mas ai, depois de sentir meu hálito alcoolizado, você perceberia que eu estava bêbada. e você me conhece o bastante pra saber que eu só perco a calma quando eu estou bêbada. você sabia disso porque foi um dos poucos a me ver bêbada; lembra daquele escândalo que eu dei no apartamento? acordei até os vizinhos! tinha sido até legal. você ficou todo preocupado achando que o síndico ia subir lá.

ficar bêbada na sua frente, seria como admitir que eu perdi; eu iria fazer uma bela massagem no seu ego mostrando que você me fez perder o controle, não iria? foi ai que eu me segurei, não iria te dar esse gostinho. continuei a rir com todo mundo, beijei aquele cara que eu esqueci o nome e bebi, me lembrando a cada copo de não ir gritar com você.

mas, o que ela tinha, que eu não tinha? essa comparação é inevitável quando você percebe que foi trocada. ela beija melhor do que eu? comer ela, te dá mais prazer do que me comer? ela é melhor na cama? ela é mais velha? é, acho que pra você as novinhas não teem mais graça né? ah, acho que descobri o que ela tem que eu não tenho: ela não pergunta. e foi exatamente por isso que você foi embora, virou as costas e me deixou lá, quando disse que "precisava de um tempo". você sabia que se ficasse, iria ter que responder a todas as minhas perguntas. e quando você disser pra essa dai que "precisa de um tempo", você vai ficar, porque sabe que ela vai apenas implorar pra você não a deixar, te perguntar mil vezes porquê e no final falar "tá bom". ela vai passar meses atrás de você, colocando frases chorosas no nick do msn, todo mundo vai te dizer que ela não suporta ficar sem você, enfim... fazendo tudo pra te ter de volta. o que você sabe que eu não fiz. eu te deixei ir. você não me viu chorar, e nunca vai ver.

e nessa noite, toda essa raiva que eu senti, serviu pra eu me desapegar mais do que eu já tinha desapegado. me fez esquecer tudo que eu achava sincero. já que todos os momentos encontraram um só sentido: a falsidade.
assim como você.

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