Vagou inquieta pelo quarto. Mas que grande bosta, suspirou.
Nessa madrugada, tão quieta, tão silenciosa, tão ensurdecedora, pairava um sentimento de... Do que mesmo ? Chega a ser incrível como quando o peito está transbordando de sentimentos, quando a cabeça está borbulhando de pensamentos, a gente não consegue pegar um só e analisar. Porque é assim : você pega um, e naquele um você acha um outro, e outro, e outro... E então uma manta, um lençol de pensamentos se forma exalando, então, diversos sentimentos. Sentia-se culpada, de certa forma. Se sentia feliz. Mas estava tão inconsolável. Sempre se contradizendo.
Sentiu uma vontade de gritar mas nenhum som - nem mesmo em forma de sussurro - saia de seus lábios. E, de qualquer forma, as palavras faltavam, estavam ausentes. A indignação e incompreensão escorriam pelo seu rosto e sua pele, impregnada de saudade, se tornava cada vez mais sensível ao toque. Sentia um frio na espinha, atrás das orelhas. Sentia pterodáctilos no estômago.
Precisava se distrair. Tentou pegar o papel e a caneta, mas ficou apenas ali, encarando o papel em branco. Onde estavam as palavras que outrora fluíam tão naturalmente ? Isso não é hora pra tomar banho, pensou. Que merda. Algumas pessoas deixavam de fazer uma coisa ou outra por falta de tempo... Ah, tempo, isso ela tinha ! Mas era incapaz de fazer o que queria. Não, talvez "incapaz" fosse uma palavra muito forte. Não tinha jeito nenhum de fazer o que queria. O que queria estava longe. Tinha que esperar. Esperar. Tempo.
Deitou no tapete. Ela queria apenas parar de pensar. E esse sono não chegava, não chegava...
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