quase nem consegui dormir de tanta ansiedade. fiquei pensando em milhares de lugares onde a gente poderia ir. parques, centro, restaurante... enfim, viajei na minha própria mente (pra variar) e fiquei pensando nas ações, no que eu poderia dizer e toda a coisa. mas no fim, me obriguei a dormir se não eu me olharia no espelho e encontraria olheiras horríveis embaixo dos meus olhos pela manhã.
acordei. cedo. mas cedo demais. mas, para minha felicidade estava sem olheiras. fiquei enrolando na cama durante um tempo, tava tão quentinho ali. enfim me levantei, esquentei meu pain au chocolat, enchi minha xícara de café, coloquei um cubo de açúcar e vim para o meu vício diário: o computador. entro no facebook, como já era de hábito e me deparo com uma mensagem no perfil do matthieu. era uma menina falando que tinha adorado o dia anterior, que tinha sido engraçado.
eu fiquei puta. mas tão puta que você nem imagina o quanto. ele acha que é assim então? passa o dia com essa vagabunda e à noite me liga pra me ver no dia seguinte? ela não tava disponível, é isso? o que ele acha que eu sou? algum tipo de tapa-buraco, quebra-galho? vai tomar no cu.
fiquei puta e fui tomar meu banho. dizer que eu tava com a cabeça quente seria elogio, mesmo sendo por um motivo tão fútil; acho que as garotas me entendem, só um scrap, uma mensagenzinha pra despertar aquela ira-de-menina-apaixonada-sem-noção. mas eu tinha que ficar calma até encontrar com ele, se não ele perceberia que eu estava irritada, perguntaria porque e blablablá, e eu não ia falar que era por causa de uma mensagem no facebook dele, isso soava ridiculamente ridículo. enfim, perguntaria depois, outro dia, talvez. a gente nem tava junto né? não iria servir pra nada estragar o dia. ele tem a vida dele.
me arrumei como se estivesse indo ver uma amiga, coloquei o meu jeans, uma blusa de gola alta, uma suéter verde água com gola em V, meu sobretudo-que-não-cobre-tudo e as minhas botas. cabelo banal, bolsa cabe-tudo. comi uma coisinha pra não ficar com muita fome de tarde (de qualquer forma não iria conseguir ingerir nada com aquela ansiedade), e fui embora.
pra variar, eu estava trasada.
quando eu já estava perto do ponto, ele estava olhando pro relógio. ele ainda não tinha se acostumado com o meu atraso?
- oooi! desculpa, saí meio atrasada de casa.
- ooi!, ele sorriu, oh god! relaxa. eu tava aqui tentando arrumar essa porcaria de relógio. eu achei que tava adiantado demais até, visto que ele não funciona.
- deixa eu ver.
e aí eu peguei na mão dele e ao apenas tocá-la parecia que eu tinha recebido uma descarga elétrica. tentei descobrir o que tinha de errado com o relógio, mas não tinha nada de errado, ele estava apenas 15 minutos atrasado. e eu senti que ele me olhava enquanto eu tentava descobrir o que tinha de errado. será que ele usou a mesma tática com a outra menina? enfim, enfim. não queria pensar nisso naquela hora, então esse pensamento se evaporou e eu comecei a me focar apenas no momento agora.
o frio ainda era o mesmo, e eu continuava a odiar aquilo, mas a presença dele fazia valer a pena.
subimos no tram, arranjamos aqueles lugares um-na-frente-do-outro e conversamos. várias conversas aleatórias. era incrível como a gente nem se importava com o fato das outras pessoas estarem escutando tudo o que a gente dizia e era incrível como a gente tinha assuntos intermináveis, sempre alguma coisa pra falar.
descemos no Commerce, continuamos a conversar e fomos na direção da Fnac, meu lugar preferido do centro. viajamos sobre críticas informáticas, subimos no primeiro andar e vimos uns cd's e dvd's ("você nunca ouviu Strokes? cara, compra isso!"), depois fomos pro segundo, o meu lugar predileto: os livros.
e foi aí que ele descobriu que a melhor coisa era me deixar à distância daquele andar. porque, geralmente, quando eu entro lá, eu quero comprar tudo, memorizar cada detalhe dos livros, devorar cada um deles. sempre que eu entro lá, eu não quero mais sair. é tipo um santuário pra mim.
foi aí que meu estômago fez aquele barulho irritante e constrangedor de fome.
- ops, desculpa. acho que meu estômago tá no modo vibracall. haha - e aí ele sorri pra mim e eu derreto.
- você comeu alguma coisa antes de sair?
- hm, er, comi um pain au chocolat e uma bolacha.
- você não almoçou? que bom, eu também não! quer comer algo? - meu estômago roncou de novo, shit.
- acho que ele respondeu por mim. - eu disse apontando pra minha barriga. outro sorriso dele.
- é, haha. o que você quer comer? um américan?
- er, eu nunca comi um, todo mundo fala que é bom e..
- NUNCA? então essa é a hora, vamos, conheço um lugar onde tem um bom e barato aqui do lado.
e saímos. fomos conversando, ele dizendo que até se sentia honrado por ser o primeiro com quem eu comeria um américan. chegamos lá, e ele que pediu pra mim, eu insisti dizendo que poderia pagar, mas ele se recusou e pagou tudo.
vou te contar o que era o américan ali: era metade de uma baguete, com catchup, maionese, bife e batata frita dentro dela, num saquinho.
como na frente da loja não tinha nenhuma mesa nem nada, a gente foi sentar nos degraus no chafariz da Place Royale. congelei a minha bunda ali, pra ser extremamente sincera. mas o américan e a presença dele compensaram tudo, e fizeram eu esquecer a minha bunda congelada e o fato de eu não sentir mais os meus dedos do pé com aquele frio.
conversamos e conversamos. eu não conseguia parar de rir com ele. e eu não precisava pensar no que eu ia dizer com ele, não precisava calcular as minhas palavras, eu conseguia ser eu mesma e me sentia bem fazendo isso. e por mais que o que eu dissesse fosse fútil, bobo, besta ou ridículo, eu sabia que ele ia entender. isso era bom.
e o mais legal, era saber que era recíproco. ele me contou sobre a vida dele, também. pais divorciados, brigas pela guarda, quase-ida pra um internato quando morava com o pai, mudança para a casa da mãe recentemente. foi aí que eu descobri o porque de nunca ter visto ele. mas ele confessou que já tinha me visto, quando vinha passar os fins de semana na casa da mãe. interessante.
em seguida, tudo foi extremamente engraçado. a gente começou a andar no centro e ir naquelas ruelas estranhas que eu sempre tive medo de ir. "você tem que enfrentar os seus medos, vamos". entramos numas lojas totalmente desconhecidas, experimentando roupas nada a ver, com acessórios nada a ver. só faltei me mijar de rir quando vi ele com um sutiã de bojo e uma regata rosa-chock. queria ter tirado uma foto, mas ele fechou a cortina do provador antes.
fomos expulsos de 3 lojas por ter bagunçado tudo e deixado manequins caírem. depois paramos numa padaria pra comprar uma coca e fomos embora.
no tram, ele disse que achava que eu tinha machucado a minha mão, e pegou ela pra olhar. aí ele viu a minha queimadura, e perguntou o que que era, eu expliquei, falando daquela coisa toda de ter queimado no grill do microondas. ele riu e falou que eu tinha que parar de ser distraída.
e não largou a minha mão.
isso não me incomodou, pra falar a verdade.
fomos até a minha casa assim, como se nada tivesse acontecido. sentamos nas escadinhas da soleira da minha porta, de mãos nadas, um encostado no outro, conversando.
dali, eu escutava o coração dele e o meu baterem num ritmo acelerado. numa ansiedade, numa ânsia desse momento incrível. aquele som era difícil de se distinguir por trás das nossas palavras, dos nossos assuntos. tum, tum, tum.
eu gostava daquilo. da lentidão. de poder saborear cada instante, como se fosse o último que eu iria viver.
keep it sweet. keep it slow.
eu encostei minha cabeça no ombro dele, e ele passou o braço em torno de mim, me enlaçando. ele me olhou, como se tivesse se esforçando pra decorar cada detalhe do meu rosto, pra não perder nada, lembrar de tudo pra sempre. aí eu olhei pra ele. ele sorriu. ai, aquela covinha... eu sorri e derreti. nossos rostos estavam perigosamente perto demais um do outro.
- o que você faria se eu te beijasse agora? - eu senti um frio na barriga. as borboletas. fazia tempo... eu tinha esquecido como era bom.
- eu...
eu não tive tempo de terminar a minha frase, que ele me beijou.
eu senti aqueles lábios, apesar do frio, mornos e doces. não doces de gosto, doces de textura, a suavidade, a leveza do momento. ele me puxou mais pro lado dele, eu senti o calor dos nossos corpos se unirem, nós parecíamos estar formando um só. a mão dele na minha cintura, a minha mão nos cabelos dele, um gesto que eu tinha imaginado durante muito tempo antes de dormir.
ninguém nunca pode entender todas essas coisas que se sente com apenas um beijo se nunca beijou a pessoa amada. o que é triste. eu acho que todo mundo deveria experimentar essa sensação. é a melhor do mundo.
nós continuamos ali, sentados, abraçados, juntos, unidos, compartilhando a doçura do momento.
eu não pude me conter.
- quem você viu ontem?
ele me olhou com uma cara confusa.
- por que?
- ah, sei lá, é que hoje de manhã eu vi uma mensagem na minha página inicial do facebook de uma menina pra você falando sobre...
- ah, a audrey?
- acho que era isso. quem é?
- ah, é a minha prima! ela aparecer de surpresa na saída do almoço do meu colégio, e a gente foi almoçar juntos, fazia tempo que eu não via ela.
eu me senti super boba. fiquei puta por ele ter visto a prima dele? ai que ridículo! queria cavar um buraco e enfiar minha cabeça dentro.
- ai como eu sou boba! - e eu dei uma risadinha
- claro que não é. - ele me deu um beijo na testa - você apenas gosta de mim.
- ah, é? gosto? quem te disse?
- bom, se você não gostasse, eu já estaria em casa a essa hora. e estaria triste.
- por que estaria triste?
- porque eu gosto de você. você me fascina, você me faz rir, você me fez vestir uma regata rosa e ser expulso de 3 lojas. você é diferente das outras. eu poderia ter te agarrado logo no primeiro dia, mas eu vi que eu queria que fosse algo especial com você, que você não era esse tipo de garota. eu gosto disso, eu gosto de você.
- é... você tem razão, eu também gosto de você.
ele sorriu, e eu contemplei aquela covinha perfeita, e descobri uma pintinha marrom escondida na bochecha direita dele, que parecia ter sido feita pra mim, ter sido feita especialmente pra que eu a descobrisse naquele exato momento.
ele me beijou de novo. com lentidão e doçura, o jeito exato pro momento. eu odeio coisas românticas e melosas demais, mas quando é você quem vive, tudo tem um sentido totalmente inverso, na verdade, tudo começa a fazer sentido.
ele me beijou. e dessa vez, eu não ligava pro fato de eu não sentir os meus dedos do pé.
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