"o mundo não é apenas raios de sol e arco-íris. é um lugar desprezível e desagradável... e o quão valente você seja, não importa, ele vai te bater nos joelhos e mantê-lo lá permanentemente, se você deixar. você, eu ou ninguém, vai bater tão duro como a vida. mas não é sobre quão duro você bate... é sobre quão duro você pode começar a batida, e continuar a avançar... o quanto você pode pegar e continuar a avançar. isso é como "ganhar" é feito. agora, se você sabe o que vale a pena, saia e consiga o que vale a pena. mas você tem que estar disposto a assumir as pancadas. e não apontar dizendo: "você não é o que você quer ser por causa dele ou dela ou de ninguém". covardes fazem isso, e isso não é você! você é melhor do que isso!"
eu tinha cansado. aliás, todo mundo cansa e explode de vez em quando. e pensar que acontecia com todo mundo, era como uma espécie de conforto pra mim; pelo menos ainda restava algo de normal aqui dentro. mas o problema é que acontecia freqüentemente (claro! eu sempre precisava achar um problema).
eu tinha cansado. aliás, todo mundo cansa e explode de vez em quando. e pensar que acontecia com todo mundo, era como uma espécie de conforto pra mim; pelo menos ainda restava algo de normal aqui dentro. mas o problema é que acontecia freqüentemente (claro! eu sempre precisava achar um problema).
foi aí que, voltando do centro, depois de um dia completamente cansativo, cumprimentei a minha amiga pra dar tchau ("la bise", um beijo em cada bochecha) quando tinha chegado no ponto de tramway mas perto de casa, nomeado Santos Dumont.
como já era de se imaginar, as ruas do meu quarteirão estavam vazias e o som do salto da minha nova bota bege de camurça, que eu tinha conseguido numa pechincha na Zara por 20€, parecia alto demais e começou a me irritar também. eu com certeza parecia ridículamente ridícula naquele salto de 5cm, mas ele pelo menos contribuia na minha tentativa, em vão, de parecer ter um tamanho proporcional à minha idade; pelo menos as botas combinavam com o meu casaco de couro marrom comprado na Pimkie e o meu jeans comprado no Brasil.
eu me sentia vazia, algo que tinha se acentuado com o passar dos dias nessas duas últimas semanas. o vazio já tinha se tornado meu companheiro há tempos, se escondia num cantinho de mim, e de vez em quando aparecia pra dar um sinal de vida. em tanto tempo de convivência com ele, ele acabou se tornando o meu cheio. era até legal quando ele vinha me visitar, eu sabia como agir e como aproveitar a estadia dele; eram momentos de paz, onde o vazio era um ponto de encontro comigo mesma e uma serenidade que outrora havia me soado completamente sacal.
eu poderia muito bem ter ido direto pra casa, e me fechado no meu quarto, esperando o vazio passar. mas eu queria mudar essa impressão de nada que eu tinha, isso não precisava ser algo triste. foi aí que eu desci a rua, ao invés de virar a esquerda e ir pra casa. eu desci a rua e entrei naquele caminho estreito que levava direto para um parque que era pouco freqüentado. minha mãe achava perigoso ir lá, já que era vazio e poderia aparecer um seqüestrador, estrupador ou qualquer outra coisa com "or" e me pegar. mas eram 16h e o sol ainda tava quente, esses caras geralmente gostam de entrar em ação às 18h chuvosas.
a minha vida e rotina tinham se tornado cansativas, e acho que foi por isso que o vazio chegou pra mudar as coisas. acho que ele me conhece bem, e sabe que normalidade demais acaba me irritando.
desci o pequeno caminho, e passei pela minúscula ponte que atravessava um rio que nem água direito tinha. passei por um banco que ficava do lado de um lixo, onde numa tarde, eu tinha sentado com um cara, e pela primeira vez no nosso relacionamento precário de 1 mês, tinha sentido que ele queria ir embora, e estava quase me forçando a ir encontrar a minha amiga. não, não ia ficar naquele banco, esse cara tinha me dado muita pena nos últimos dias, e acho que nem a minha piedade ele tava merecendo. continuei em frente, passei do lado daquelas árvores verdes que refletiam os raios de sol e os enviavam direto ao meu pescoço, me esquetando e fazendo-me sentir um calor morno, que era agradável. passei do lado de um outro banco. lembra quando a gente quebrou garrafas de cerveja ali? você tinha conseguido acertar uma no ângulo do banco! foi um momento pueril, que nos fez rir bastante. continuei em frente, até chegar ao meu destino.
eu adorava aquele caminho de pedras brancas, e gostava ainda mais dele porque as árvores o cobriam com uma harmonia remarcável. e só havia um pequeno espaço onde o sol penetrava sem ser barrado pelas folhas. eu coloquei a minha bolsa no chão, tirei o meu casaco de couro e deitei ali. meio na grama, meio nas pedras, com a cabeça na clareira. ninguém ia passar por ali, todos estavam muito ocupados em filas de banco, filas de caixa em lojas, supermercados, presos no trânsito, bebendo cerveja na padaria ou qualquer outra coisa que se faça numa quarta-feira à tarde, então não tinha que me preocupar sobre o fato de parecer ridícula deitada no meio do nada, no caminho de um parque.
a sensação do sol esquentando o meu rosto foi uma das melhores que eu senti nos últimos dias. deixei o sol esquentar minhas pálpebras até enxergar apenas um vermelho-meio-laranja-meio-rosa. eu deixei a brisa bater, entrar entre os fios dos meus cabelos, sacudir a minha roupa, escorregar na minha bochecha aquecida pelo sol... e simplesmente me refrescar. eu não estava pensando em nada, algo que não tinha me acontecido há meses; a minha cabeça sempre estava cheia de atitudes inúteis, coisas irritantes e provas no dia seguinte.
o sol absorveu cada molécula impura que estava presente em mim, e a brisa levou junto com ela as irritações diárias, me deixando limpa. e foi aí que eu descobri que, finalmente, ao contrário do que eu pensava, eu poderia aguentar o amanhã, eu poderia ser mais forte que hoje e poderia viver, não intensamente como tinha vivido nos últimos 13 anos, mas simplesmente viver e não deixar escapar essa oportunidade de vida, e aproveitar um pouco, pra não deixar o tempo passar em vão.
2 comentários:
NOSSA... como eu amo o jeito que vc escreve meu amor...
serio....
de verdade..
sua linda
amo vc ,*
Eu preciso ser mais assim... preciso fircar um tempo comigo mesma pra ver se as coisas na minha cabeça começam a se ajeitar!!
Te amoo
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